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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

28
Jul10

[we're off to see the wizard] the wonderful wizard of moz

beijo de mulata



Estive aqui a pensar... e resolvi lançar-vos um desafio: virem comigo... Sim, estou a fazer-vos um convite a sério! Asseguro-vos de que não é difícil. Difícil, difícil mesmo em qualquer expedição a Moçambique é chegar à Portela (bem, e ultrapassar a parte do aeroporto de Mavalane também não é fácil, mas isso são outros quinhentos e também já vos contei), a partir daí, já com licenças sem vencimento para interromper o trabalho por cá, já com vistos, carimbos no passaporte, autorizações para trabalhar no país, autorizações para conduzir, autorizações para circular, Moçambique conjura-se para que tudo nos corra bem. As pessoas são naturalmente quentes e afáveis e nunca vi país mais bonito e fotogénico. Tudo transpira largueza, com cheiro a espaço aberto e vistas desafogadas. As músicas são alegres e ritmadas, os batuques acompanham o pulsar do coração das gentes, não há música que se cante a menos de três vozes e a harmonia é facílima de apanhar. E as danças... bem, lamento mas essas não vo-las posso ensinar... Por cem anos que viva não tenho a menor hipótese de as aprender, mas são de encher a alma de quem as vê!


Vá, animem-se, fechem os olhos e deixem-se vir cá ter... Não se preocupem que ninguém vos vê, mas tenham cuidado que agora vamos entrar na savana e os espíritos e os animais podem pressentir a vossa presença... A partir de agora as regras são diferentes. Os macuas têm um provérbio que nos ensina que "quando se chega ao oceano, as leis do rio deixam de servir" e esta é uma lição de vida deliciosamente verdadeira.

A partir de agora pisem só onde eu pisar, não se afastem do caminho. Não há minas anti-pessoais, garanto-vos, o país tem uma sólida paz de vários anos e está todo desminado, mas podemos encontrar cobras e não quero que vos aconteça nada. Não passem por baixo dos cajueiros, sobretudo se não ouvirem passarinhos cantar. Se passarmos perto de um embondeiro procurem um monte de farinha e se lá estiver algum, por favor, não o pisem porque foi oferecido aos antepassados numa cerimónia muito intensa e difícil. É preciso ter muito respeito pelos pedidos de protecção e saúde que ali foram feitos. E nós só estamos aqui porque os antepassados no-lo permitiram. Ah, não sorriam. Não acreditam? Pois digo-vos que não se consegue trabalhar aqui se não respeitarmos e conhecermos as crenças das pessoas com quem vamos conviver. De outro modo não vimos cá fazer nada, só nos vamos deprimir porque nesse caso falar com as pessoas será como falar com uma parede.

Mais adiante vamos passar por um curso de água. Temos de o atravessar com muito cuidado pelas pedras que estão à sombra porque os crocodilos são animais de sangue frio (poiquilotérmicos, eu sei, deixem-se lá de mariquices que já não temos muito tempo) e preferem o calor, mas mesmo assim todo o cuidado é pouco. E nem pensem em entrar na água. Nem molhar os pés sequer. Aqui a schistosomíase abunda e depois não tenho como vos tratar a todos. E insisto, a não ser que oiçam os passarinhos cantar não passem por baixo dos cajueiros porque lá em cima estão de certeza várias cobras. Mas as precauções são simples se as mecanizarmos desde o primeiro dia. O prazer de andar pelo mato supera tudo isto, podem ter a certeza.

Mas venham comigo, não deixem de vir... Não é tudo fácil, vocês sabem. Só há rede de telemóvel de vez em quando, a internet anda incrivelmente instável em todo o país desde que danificaram os cabos submarinos de fibra óptica ao largo de Gaza e a electricidade depende quase toda da barragem de Cahora Bassa, o que quer dizer que tem oscilações que ameaçam diariamente pegar fogo a qualquer aparelho incauto que esteja ligado à corrente. Ah, e podemos passar dias inteiros sem electricidade, portanto temos de ter gerador próprio na mesma, porque se não corremos o risco de ficar sem luz no bloco operatório ou estragar todo o stock do banco de sangue, que tanto nos custou a angariar (não se esqueçam de que estamos num país onde todos se alimentam mal e a anemia é a regra geral, portanto dar sangue é um esforço quase sobre-humano e temos de ter muita estima por aquele ouro vermelho que todos os dias salva vidas). E obviamente não estão à espera de ter água canalizada todos os dias, pois não? Mas lá em casa temos um bom filtro, portanto a água é perfeitamente potável. E tomar banho com um balde e um copo é simples, não se façam de esquisitos! Muita sorte temos nós por não termos de ir ao rio tomar banho.

Vá, venham comigo! O país está à nossa espera, as pessoas precisam da nossa ajuda e há tanto que fazer…
26
Jul10

[not in their backyard!] os fumos da mozal

beijo de mulata
aqui vos falei, a rebentar de indignação, sobre o crime ambiental e sanitário que permanece impune às portas de Maputo... e continuo perplexa com o escândalo que é o governo ter aceite, sem qualquer pudor, a decisão assassina dos dirigentes da Mozal (fundição de alumínio) de libertar directamente para a atmosfera os fumos resultantes do processo de fundição durante meses, período em que vão proceder à substituição dos filtros.

Em qualquer país da Europa isto nunca seria permitido e, mesmo que acontecesse sem autorização do governo, quando o assunto viesse a público as acções da empresa cairiam automaticamente na Bolsa, haveria, no mínimo, manifestações das populações circunvizinhas transmitidas em horário nobre e uma campanha da sociedade civil para o boicote ao consumo dos produtos dessa fábrica. Mas por lá, pelos fracos ecos que me chegam, nem sei sequer se a população faz ideia do que está a acontecer mesmo no seu quintal... Felizmente o Professor é um homem atento e tem denunciado a situação, com muito mais alcance e propriedade, mas será que vai ser suficiente?
25
Jul10

[nocturno africano] que as fotos nunca poderão captar

beijo de mulata

À noite, em Iapala, há qualquer coisa de fantástico e de arrebatador na atmosfera da varanda, debaixo de um céu benzido pelo Cruzeiro do Sul. Ouvem-se os sons da noite da estação seca, as folhas dos coqueiros parodiando a chuva, as corridas dos cães nas suas horas de liberdade, que as Irmãs tinham, por graça, ensinado a compreender ordens em Macua: mukilate! e sentavam-se, prazenteiros. Ouve-se o som dos batuques até de madrugada, o ritmo das danças, as vozes inesperadamente melodiosas dos cânticos, entrecortados pelo alarido das mulheres.


Ao longe adivinha-se a silhueta do monte Iapala, um colosso em ogiva que encobre uma parte do firmamento e que se ilumina aqui e ali, em labaredas que parecem ter vida própria, queimadas que se vão extinguindo por si, sem que ninguém as apague, apenas para se reacenderem noutro local na noite seguinte, e fogueiras com famílias inteiras reunidas em seu redor.
24
Jul10

[inspiração para um bem-haja] a propósito de falsas loiras

beijo de mulata


Fascínio tenho eu por falsas loiras (ai a negra lingerie)
As sardas, sobrancelha feita a lápis e perfume da Coty
Na boca dois pivôs tão graciosos entre jóias naturais
Os olhos dois minúsculos aquários de peixinhos tropicais
Eu conheço uma assim
Uma dessas mulheres que um homem não esquece
Ex-atriz de TV, hoje é escriturária do INPS
E que dias atrás, venceu lá um concurso de Miss Suéter
Na noite da vitória, emocionada, entre lágrimas falou:
"Nem sempre a minha vida foi tão bela mas o que passou, passou
Dedico este título à mamãe que tantos sacrifícios fez
Pra que eu chegasse aqui ao apogeu com o auxílio de vocês"
Guardarei para sempre seu retrato de Miss com ceptro e coroa
Com a dedicatória que ela em letra miúda insistiu em fazer
"Pra que os olhos relembrem quando o teu coração infiel esquecer.
Um beijo, Margot"

João Bosco

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