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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

30
Jun10

[bem, vamos lá acabar com a história] antes que cheguem à fase das ameaças...

beijo de mulata
(É desta que a história termina. A sério que é. Não era preciso era terem reclamado tanto, que se não a terminei antes foi porque não pude... estive a trabalhar até às 21:00, depois entrei de Urgência durante a noite e, vai daí, como já estava com as mãos na massa, continuei a trabalhar até às 18:00. Como queriam que ainda escrevesse alguma coisa? Só se dissesse aos doentes, Ah e tal, tenho ali umas coisas para acabar de escrever, volte mais tarde...)




Num segundo tudo ficou pronto para partir, foi como se alguém tivesse ligado novamente a câmara rápida. Até o menino se tentou colocar de pé, mas foi impedido pelo próprio tio, que insistiu em carregá-lo às cavalitas. Quando chegamos, o carro já está pronto para partir porque o Padre Filomeno já imaginava a gravidade da situação. O menino, surpreendentemente, depois de tomar a água com açúcar não voltou a ter outra convulsão e parece ter já um novo brilho no olhar... Mas até quando? Subimos para o carro. Não há lugares sentados para todos, por isso a família vai na caixa aberta do jeep, juntamente com outros doentes que pediram para ser transportados para o hospital: uma grávida em fim de tempo, uma menina com um abcesso dentário e celulite da face e um menino desnutrido, todos com as respectivas famílias. Não podemos avançar muito rápido porque a estrada é péssima, o carro vai muito carregado [não vai como o da imagem acima, mas para lá caminha...] e ainda temos de passar pela outra aldeia para vacinar as crianças.

– Para a semana temos de ir a uma aldeia aqui perto. Nessa altura podemos fazer um desvio e vir também a esta. Vou só descer para os avisar que levamos um doente grave mas que voltamos para a semana, decidiu a Irmã.

Quando a Irmã Lurdes sobe novamente para o carro traz uma má notícia. O menino acabou de ter nova convulsão e desta vez ainda não recuperou a consciência. Só me apetece chorar... Subitamente vêm-me à memória as aulas de Infecciologia… Como pude ser tão auto-confiante e insistir para que o menino viesse? Aquela melhoria aparente pode não ter sido por termos tratado uma possível hipoglicémia, podem ter sido as típicas "melhoras da morte" da malária cerebral! Por que fui eu dar falsas esperanças e deslocar uma família tão pobre? Para os deixar com uma dor ainda maior? Olho novamente para trás. O menino acordou de novo. Parece que não aguento mais tanta angústia... Dão-lhe mais água com açúcar e mais uma vez parece melhorar... A Irmã parece ler os meus maus pensamentos:

– Estamos a fazer o que podemos, já não seria o primeiro doente a morrer-nos no caminho. Mas Nossa Senhora há-de nos ajudar, vamos rezar por ele.
A Martine também me tenta confortar:
– Não podemos fazer mais do que aquilo que estamos a fazer.

Parece que as palavras delas me acalmam um pouco... Não sei quantas vezes mais o menino convulsiva até chegarmos ao hospital, com ele completamente inconsciente há mais de 15 minutos. Já levo a medicação programada e as contas todas feitas. Enquanto os enfermeiros lhe colocam uma via de acesso venoso, ajudo os outros doentes a descer do carro. Um dos meninos está a tremer de frio... (Arrefeceu durante o fim da tarde). Tento abraçá-lo para o aquecer, mas tem medo de mim. Claramente nunca viu uma mulher branca. Entrego o meu casaco de malha à mãe para vestir o menino, mas tenho de correr para dentro para preparar a medicação, "Meu Deus, não me falhes, se conseguimos chegar até aqui com ele vivo, não é justo que ele nos morra agora, lutou tanto..." A febre volta a subir, mas desta vez foi mais fácil arrefecê-lo e, uma hora depois, já está novamente fresco.

– Vá lá, acorda, ainda tens tanto para viver!

O quinino vai correndo gota a gota, lentamente para dentro da veia. Ainda faltam três horas para terminar a primeira dose. Quase ao fim das quatro horas abre os olhos e, pela primeira vez, volta a falar. Pergunta onde está, que lugar é aquele. O exame neurológico não mostra alterações. Contra todas as expectativas, está vencida a batalha, felizmente! Ao menos valeu a pena tanto sofrimento… Nimutthapele Muluku!

Já me posso preocupar com os outros doentes. A grávida está bem, mas é o décimo filho e ainda não há qualquer sinal do trabalho de parto. Vão ser uns dias longos por aqui... A menina do abcesso dentário e celulite da face vai começar o antibiótico e o menino desnutrido está ao colo do cozinheiro do hospital, o Sr. Manuel, que já lhe começou a preparar as soluções de recuperação nutricional, feitas segundo os preceitos da Organização Mundial de Saúde, com um toque da alta cozinha Iapalense, “uns pozinhos do Sr. Manuel”, como o próprio faz questão de dizer.

Foi um dia rápido! Rápido demais, talvez, para digerir tudo quanto vi... Ontem não podia mesmo imaginar que viria a ter mesmo um curso relâmpago de inculturação no primeiro dia. Só espero terminar a minha estadia compreendendo um pouco melhor este povo. A Irmã Lurdes move-se no meio deles como peixe na água, tenho isso a meu favor, pelo menos...
29
Jun10

[este blog não tem livro de reclamações] valha-me santa maria do mail que tenho de criar um...

beijo de mulata
Meus queridos,

Eu juro que vos adoro. Eu escrevo especialmente para vocês, que me fazem rir nos comentários que aqui deixam. E até me fazem surpresas com pesquisas no google (não, não é aquela das mulatas selvagens, que já não tem piada, é a outra do Senhor da África do Sul, que afinal não era da África do Sul e sobre quem também ficámos na dúvida se seria um senhor em vez de uma senhora ou vice-versa)! Se não vos amasse profundamente, que amo, não viria aqui todos os dias. Mas eu escrevo apenas à medida do que posso. Entre duas consultas e ao chegar a casa ao final da noite. E como eu sempre digo (gosto de me citar a mim própria, como já certamente notaram), quem dá o que tem, a mais não é obrigado...

Tudo isto para dizer que espero que compreendam que não posso prometer um final feliz em todas as histórias. Só vos posso garantir que são todas verídicas. Ah, mais uma coisa: quem lê um post intitulado "a tristeza só não espreita a cada esquina porque vive em espaço aberto", lê-o forçosamente à sua responsabilidade. Somos todos adultos e eu até sou uma fervorosa adepta do WYSIWYG*. Mas claro, também compreendo que ninguém é obrigado a vir aqui ler coisas mais tristes do que aquelas que já vê todos os dias. Por isso lembrei-me agora de oferecer um serviço adicional aos meus amigos: podemos, talvez, colocar uma hiperligaçãozinha no início dos posts potencialmente mais geradores de angústia, para ser possível saber se a história por fim terminará bem ou mal, podendo depois decidir em conformidade se o querem ler ou não... Que me dizem?

Beijos de mulata para todos.

* What you see is what you get.
28
Jun10

[welcome to mozambique] a doença a céu aberto

beijo de mulata
(Continuação do post de ontem, como prometido. Está aqui mesmo coladinho abaixo, mas o link vai na mesma.)


Chegamos por fim a casa do menino, após uma caminhada que deve ter demorado uns bons 15 minutos quase a correr. A família está reunida cá fora sob o alpendre da casa, fitando o menino com um ar consternado, como se estivessem a velar um caixão. O menino deitado no chão, com a cabeça apoiada sobre os joelhos de um outro jovem está vivo! Consciente e orientado. Suspiro de alívio. Graças a Deus! Mas está a arder em febre. Deve ter tido uma crise convulsiva e depois entrado em coma durante alguns minutos e a família pensou que tinha morrido. Tem malária cerebral de certeza! Está prostradíssimo, suado e com a tonalidade acinzentada que só se vê nas doenças graves. Temos de o levar para o hospital o mais rápido possível, mas sabe Deus se lá conseguirá chegar vivo... Começo a observar o menino, que no mesmo instante começa a fazer movimentos periódicos com os olhos. Vai convulsivar novamente.
– Vamos deitá-lo, que é melhor.

Durante minutos intermináveis o menino é sacudido por movimentos clónicos dos quatro membros, ante o choro manso da família.

– Temos de o levar para o hospital o mais rápido possível, senão morre de certeza! – digo à família, mas ninguém me parece ter compreendido. Peço ao senhor Rafael para me traduzir para macua, mas também ele permanece calado, como se nem tivesse prestado atenção. O que será que se passa? Por que é que de repente ficou tudo em câmara lenta? Por que é que ninguém se move, ninguém fala, ninguém faz nada para salvar este menino?

– O que é que se passa, Irmã, não vamos?
– Espera um pouco, não te impacientes, o pai e a mãe estão a decidir se levam ou não o menino para o hospital.
(Terei ouvido bem?)
– A decidir se o levam ou não?! Mas não sabem que o menino vai morrer de certeza se não o levarem?
– Tem calma, esta cultura é muito especial, há valores que se sobrepõem a todos os outros. Se por acaso acontece o menino morrer longe daqui, a sua alma nunca mais vai encontrar o caminho de volta, nunca poderá ser feliz na outra vida e a família vai sentir-se responsável por isso.

O menino começa novamente a convulsivar e ajoelho-me para o amparar enquanto a família se coloca de pé em redor, com uma face solene.
– Estão a dizer que os antepassados tomaram conta do menino, já estão no corpo dele. Para eles é como se já estivesse morto...

De facto, que outra interpretação é que uma cultura que nunca teve contacto com a ciência, poderia dar a uma convulsão? Se calhar foi por isso que disseram há pouco que ele tinha morrido, quando era óbvio que ainda estava vivo. Mas assim não vai haver maneira de convencer a família de que o menino ainda pode sobreviver... A Irmã continua a tentar. Fala calmamente com os pais, expondo os seus argumentos, ajudada pelo Sr. Rafael. Diz que podemos tratar a doença do menino e, se ele sobreviver, os antepassados não vão entrar no corpo dele.

Eu estou completamente fora de mim, estamos a perder um tempo precioso, já podíamos estar a chegar ao carro e o menino está com convulsões quase de cinco em cinco minutos. Os pais, por fim, dão sinal de anuimento e a mãe desaparece dentro de casa, para colocar roupa, comida e uma panela dentro de um cesto para irem para o hospital.

– Então, vamos?
– Ainda não, foram chamar o tio.
– Como?! Chamar o tio para quê, se os pais já concordaram? Agora é preciso ir chamar a família toda?!
– Fala mais baixo, que eles podem compreender-te! Entre os macuas quem tem direito e exerce o poder paternal sobre as crianças não é o pai, mas o irmão mais velho da mãe. O pai pode dar a sua opinião, mas quem tem efectivamente o poder de decisão é o tio, e isso é incontornável.

Subitamente recordo que alguém me tinha dito antes de vir que a sociedade macua era matrilinear, mas nunca me tinha dado ao trabalho de interiorizar e operacionalizar essa informação... Nem me tinha passado pela cabeça que nunca conseguiria exercer Medicina sem conhecer a estrutura e o funcionamento da sociedade. São tantas as coisas que damos como adquiridas quando nos movemos em terreno conhecido... Os próprios macuas têm um provérbio que diz: Quando chegamos ao mar, as leis do rio já não servem...

Mais uma convulsão. A situação é crítica, mas temos de tentar mantê-lo vivo até chegarmos ao hospital. Só então começo a raciocinar em termos médicos, vamos arrefecê-lo, dar-lhe paracetamol e cloroquina. Nada disto vai resolver o problema, mas pode ser que o ajude a não piorar. Outra causa tratável de convulsão é a hipoglicémia, que é muito frequente na malária maligna.
– Vamos dar-lhe água com açúcar.
A família olha-me, consternada:
– Não temos açúcar, Irmã...

Meu Deus, como é possível uma pobreza a este ponto? O que é que eu estou aqui a fazer, no meio de uma cultura que não conheço e não compreendo e ainda por cima com a fantasia de que consigo tratar alguém sem meios nenhuns... Procuro na carteira, esperançada de encontrar algum pacote esquecido de um café de Lisboa e, de facto, lá encontro alguns pacotes de açúcar Delta®, que coloco num copo de água que me trazem.
– Como se chama o menino? – aproveito para perguntar.

Levítico é o nome. O tio chega, finalmente, espavorido e com lágrimas nos olhos, estava na machamba, um pouco longe dali. Ficou contente com a proposta de levar o menino para o hospital e deu o seu acordo de imediato.

(Bem, já se percebeu que a história ainda não terminou... Mas continua.)
27
Jun10

[welcome to mozambique] a tristeza só não espreita a cada esquina, porque vive em espaço aberto

beijo de mulata
(Continuando esta história...) Está na hora da missa!





De caminho somos interceptadas por um professor de uma das turmas que hoje fará a Primeira Comunhão, que se aproxima trazendo pela mão um menino com ar triste, que aparenta uns 8 ou 9 anos.
– Quando estava a jogar futebol, há uma hora, caiu para o chão e ficou estendido. Só acordou depois. Faço várias perguntas ao professor, mas não o viu cair. Ninguém sabe, portanto, se tropeçou e bateu com a cabeça, perdendo a consciência ou se desmaiou. A Irmã Lurdes põe-lhe a mão na testa.
– Está fresco... E não tem má cara...

Um exame neurológico sumário não revela alterações, deve ter sido uma breve perda de conhecimento depois do traumatismo craniano, penso. Como se tivéssemos telepatia, a Irmã leva a mão à carteira para ir buscar os medicamentos que sempre a acompanham:
– Vai tomar este comprimido de paracetamol e vai-se deitar agora. Antes de irmos venham-nos dizer como está.
– Obrigado, Irmã.

Continuamos para a missa, pois já se ouvem os cânticos da entrada. Batuques e vozes. Batuques e vozes apenas. Fico sempre surpreendida de como conseguem criar uma harmonia tão bonita e envolvente.

Depois da missa, que durou mais de duas horas sem que se desse pelo tempo passar, somos recebidos no pwarrow do régulo, a sala das visitas importantes da aldeia, para um almoço que cheira deliciosamente... Oferecem-me água para lavar as mãos, mas recuso delicadamente (esta água é um líquido tudo menos incolor e inodoro, com alto teor de matéria orgânica em suspensão, em que quase julgo ver vibriões da cólera e schistosomas a proliferar numa algazarra primaveril). Acabo por limpar disfarçadamente as mãos com um toalhete Dodot® e sentar-me à mesa. A Irmã Lurdes tinha-se compadecido de mim no meu primeiro dia e tirou da carteira um conjunto de talheres. Mas avisou-me logo que seria uma vez sem exemplo, porque em Moçambique não sejas romano... e não devemos ter modos muito diferentes dos das pessoas que nos recebem. Concordei com um gesto, mas todos sorriram do meu alívio de não ter de comer com “os talheres que Deus nos deu”. Galinha com milho e feijão, uma iguaria apenas reservada para os dias de festa brava.

Depois de almoço, quando já nem nos lembrávamos de que tínhamos pedido antes da missa para fazer café, a mamã Teresa aparece com um café balsâmico e fumegante, a uma temperatura que me tranquiliza completamente quanto à ameaça infecciosa da água.
– Parece que revivi... – exclama a Martine ao primeiro golo. Já parece completamente refeita da noite em claro... E a conversa corre animada sobre as actividades da comunidade.

De súbito, somos chamados cá fora. O professor do menino, que nos abordara antes da missa diz-nos:
– Sabem, Irmãs, o menino que mostrei há bocado...
– Sim?
– Já despediu.

Não compreendo o que diz, entendo as palavras, não o sentido, mas a Irmã Lurdes parece ter tido um choque:
– Como?!
– Já despediu, Irmãs, perdeu a vida...

Que horror! Meu Deus, como é que é possível?! Mas nem sequer parecia doente... De tal forma não fiquei preocupada com ele que já só vagamente me lembrava que tinha de perguntar pelo menino antes de ir... Olhamo-nos consternadas. Eu certamente mais triste do que a Irmã, pois é o meu primeiro dia, no fundo o meu primeiro caso clínico. A face triste do menino vem-me à memória com uma angústia brutal.

– Nem posso acreditar, meu Deus... tão de repente... e logo uma criança.
Ocorre-me então uma pequena luz de esperança:
– E se estiver só desmaiado outra vez? Alguém lhe viu o pulso, viram se respirava?

O professor acena negativamente.
– Onde é que ele está? Vamos lá agora mesmo, decidiu a Irmã Lurdes.
– Mas é longe, Irmãs, ele está em casa.
– Vamos embora!

Com o coração completamente aos pulos lá sigo o professor, atrás da Irmã Lurdes e do Senhor Rafael.
– Vamos fazer o que pudermos. Pode ser que esteja vivo, murmura a Irmã.

Mas eu não me consigo distanciar desta forma da situação. Sinto-me inteiramente responsável por esta morte. Avançamos hors piste, a corta-mato. Não há sequer um caminho por onde possa passar uma bicicleta. Seguimos por um terreno arenoso e acidentado, onde os sapatos se afundam, impedindo-nos de avançar rapidamente. Como é que as pessoas não se perdem se não há ruas ou caminhos e muito poucos pontos de referência? De vez em quando um embondeiro, de vez em quando uma palhota, mas tudo me parece igual...

(Prometo que continua...)
27
Jun10

[inspiração para uma despedida] lamúria em dó de si

beijo de mulata
Canção Amarga

Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
— Importa amar, sem ver a quem...
Ser mau ou bom, conforme os dias.

Agora, tu, só entrevista,
quantas imagens me trouxeste!
Mas é preciso que eu resista
e não acorde um sonho agreste.

Que passes tu! Por mim, bem sei
que hei-de aceitar o que vier,
pois tarde ou cedo deverei
de sonho e pasmo apodrecer.

Que importa o gesto não ser bem
o gesto grácil que terias?
— Importa amar, sem ver a quem...
Ser infeliz, todos os dias!

David Mourão-Ferreira, in A Secreta Viagem
26
Jun10

[o meu carro e eu] marcas da estrada

beijo de mulata

Esta manhã ouvi uma amiga minha, regressada de Marrocos, comentar:
- Recuso-me terminantemente a lavar a carroçaria do meu carro... Vai ficar em versão Lawrence das Arábias até que chova! As marcas da estrada e do uso podem não ser fabulosas, mas dão-lhe um ar vivido, como convém a qualquer mulher jovem e com garra.
Resposta de seu pai, que é um homem sábio:
- Minha querida filha... dado o aspecto dele e de acordo com a nova versão que lhe quer dar... não prefere trocá-lo por um camelo?
26
Jun10

[inspiração para um reencontro] talvez até com um cravo cravado no peito, para ser mais pungente

beijo de mulata
Sotto Voce

É possível que eu esqueça a liquidez da lua
o sono dessa rua às três da madrugada
a longa caminhada orquestrada pela chuva
a sombra de uma luva em cima de uma vaga

É possível que eu esqueça o dia em que nasceste
Em que depois da luva apareceram as mãos
É possível que eu esqueça. Ou me seja indiferente.
É preciso que não. É preciso que não.

David Mourão-Ferreira

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