Isto tem ficado divertido por aqui nos últimos dias... Desde que vos contei a história da placa, as pesquisas no google que cá têm vindo dar (a par com os horny bastards que continuam na sua senda em busca de mulatas selvagens) têm sido do tipo:
- Beijar com prótese dentária é possível? (Esta é fácil, meu amigo!) - Placa dentária torta (Isso é desagradável, mas uma placa dentária partida é muito pior, ora leia só alguns posts abaixo...) - Caiu-me a placa a meio do jantar poema (Errr... Posso tentar fazer um poema com isto, é uma questão de passar cá dentro de uma semaninha ou duas, que já deve estar pronto. O mote é profundo e poético. E "Caiu-me a placa a meio do jantar" é um verso decassílabo heróico. Tem tudo para correr bem. Ai não tem tempo para esperar? Tinha mesmo de ser ontem? Bem, então o que não tem remédio remediado está...)
Fevereiro de 2006. Primeira ida ao Gilé, na Zambézia (Moçambique) com a minha amiga A., a melhor companheira de viagem que se pode ter. Ela era um GPS onde não podia haver GPS. Tinha um sentido de orientação absolutamente fenomenal*: mesmo sem estradas e sem caminhos visíveis, a A. tinha como referência os embondeiros, os troncos e as raízes do caminho para saber onde virar para determinada aldeia. E tudo isto sem pestanejar, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Durante a viagem tivemos um furo num pneu (imaginem só, duas gajas e um pneu no meio do mato!), mas a famosa afabilidade e solicitude do povo moçambicano mais uma vez entrou em acção. As primeiras pessoas a aparecer foram as mulheres que andavam por ali a cultivar a machamba, com os filhos amarrados às costas como uma segunda pele. Mas, chamados pelas respectivas, logo compareceram também vários cavalheiros que nos mudaram o pneu ainda mais rápido do que eu tratei dois dos filhos deles que estavam doentes. No final ainda agradeceram a pequena gratificação que lhes demos e a medicação dos meninos... É um país abençoado!
O problema é que, durante a trovoada do dia anterior, uma ponte tinha desabado, obrigando-nos a um desvio considerável. Assim, chegámos ao Gilé com várias horas de atraso e o depósito de gasóleo a menos de metade, preocupadas porque teríamos de encontrar um posto de abastecimento razoavelmente próximo e de confiança. Não é fácil, como sabe quem já lá passou. Por vezes os postos de abastecimento vendem gasóleo adulterado com água, que faz gripar o motor poucos quilómetros depois, arriscando-nos a ficar no meio da savana, onde não há aldeias, nem rede de telemóvel. E muito menos reboques...
Mas, assim que chegámos, a Irmã Lurdes descansou-nos: - Não se preocupem. Aqui no Gilé há uma bomba de gasolina. E deve ter combustível quase de certeza, porque soubemos que chegou esta semana!
(Ai que nos valesse São Cristóvão, que tínhamos chegado a outro planeta...)
*Saibam os meus estimados leitores que a minha lendária ausência de sentido de orientação poderia tornar, por exemplo, o meu regresso a casa numa cidade estranha mais improvável do que o regresso de D. Sebastião, mas isso não transforma, a meus olhos, uma pessoa que sabe ver mapas num GPS nato. Eu sei reconhecer um génio da orientação quando o vejo, ok? Só para deixar as coisas bem claras. Cá por coisas...