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Beijo de Mulata

Beijo de Mulata

27
Mai10

[as melhores do serviço de urgência] o que fazes quando estás com a telha?

beijo de mulata
Serviço de Urgência do meu hospital. Cinco da madrugada. O galo já cantou várias vezes. Felizmente ainda ninguém negou ninguém, até porque esta história não vem na bíblia e a Páscoa já lá vai... E sim, há galos no meu hospital. E pavões. E rolas. E gansos. E também havia, em tempos, uma águia que uma vez deu uma bicada a uma criança que a tentou alimentar, episódio que deu origem à tradicional advertência: "Podes ir ao jardim mas tem cuidado, não vás ver a águia. Há meninos que às vezes até ficam do Benfica...." Tempos depois, a águia foi saneada. Eram os tempos áureos de Alvalade... (E pronto, também o despontar do Instituto para a Conservação da Natureza.)

Mas onde íamos nós? Ah, pois, cinco da manhã. Um dos neurónios já foi dormir. O outro está a tentar trabalhar com muito cuidado para não acordar o cônjuge.

Várias colegas conversam alegremente, aproveitando a ausência temporária de doentes e a falta de crítica inerente às cinco da manhã, depois de vinte e uma horas de trabalho seguidas, com a perspectiva de ainda ter, com sorte, pelo menos mais quatro pela frente... Come-se chocolate (mais uma vez a falta de crítica a produzir os seus efeitos...). Tema de conversa: O que fazes num banco quando estás sozinha e com a neura?

Médica 1 - Eu vou conversar com os enfermeiros...
Médica 2 - Eu telefono para o meu irmão que está nos Estado Unidos.
Médica 3 - Eu telefono para a Saúde 24...
Médicas 1 e 2 - Para a Saúde 24?! Para quê?
Médica 1 - Para desabafar por estares com a telha?
Médica 3 - Não, para os desancar!

(Quanto a mim, sei que nunca o faria, mas uma vez ou outra juro que já tive ganas...)
27
Mai10

[improbabilidades] tentar arranjar a placa em moçambique

beijo de mulata
À quarta é de vez. Enfim, o epílogo...

Já ali queria dizer mais cerca de 15 minutos a andar bem, ainda mais embrenhados pelo meio do bairro. Por fim:

– É aquele. – disse o empregado.
– Espero bem que aceite fazer o arranjo, senão fica assim mesmo, voltamos para casa, que já não tenho paciência. – decidiu a Irmã Conceição.

Entregámos a dentadura ao senhor das câmaras-de-ar de bicicletas, Castelo Branco de seu nome, que a examinou tão demoradamente como o anterior. Por fim, lá se decidiu a consertá-la. Dobrou-se sobre si próprio e começou a juntar com as mãos um montículo de terra lamacenta misturada com detritos indistinguíveis, em cujo topo (qual cereja em cima do bolo...) colocou a prótese dentária! Ai, valesse-nos Santa Rita de Cássia! Tanto tempo e tanto esforço para a placa no final acabar em cima de um monte de lama... O nosso ar horrorizado deve ter sido bastante expressivo, porque quando o homem levantou a cabeça tentou confortar-nos dizendo "Não preocupar, Irmãs." e mais uma frase que não compreendemos e que o empregado não achou necessário traduzir.

Em poucos minutos deu o trabalho por terminado e passou à fase do polimento, para o que foi buscar um pano de flanela, mais negro que um tição ardido, e começou a esfregar vigorosamente. Minutos depois:

– Já está. Experimentar, Irmã!
– Como?!
– Experimentar! Colocar nos dentes.
– Nem pensar, não vai a pôr na boca agora. – Adiantou-se a Irmã Conceição – Mas deixe cá ver como foi que ficou.

Contra todas as expectativas, a placa estava como nova! Lisa, brilhante, macia, sem uma rugosidade. Nem queríamos acreditar...

– Botar preço, papá.
– Vinte contos, Irmã. [Vinte mil meticais equivalia, na altura, a menos de 1 €.]
– Tome cem, papá. Muito obrigada e muita saúde!

O homem pegou no dinheiro e levou-o à testa: "Graças a Deus!", ouvimo-lo murmurar.
Felizes com o desfecho, voltámos à oficina para agradecer ao dono o favor que nos tinha feito e regressámos ao Hospital Central, mas o Estomatologista considerou que o trabalho estava perfeito e não havia mais nada a fazer. Só a desinfectou longamente com um ar levemente enojado... Mortas de fome e perdidas de riso voltámos para casa, onde nos aguardava o almoço em banho-maria e o jeep já carregado, pronto a seguir para Iapala...

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